23 de novembro de 2015

De Volta a Twin Peaks - Primeira Temporada, Episódio 4

De Volta a Twin Peaks - Primeira Temporada, Episódio 4

Em seu sonho, o agente especial Dale Cooper conversou com um homem de um braço só. MIKE era seu nome e ele cortou o próprio braço esquerdo para parar de matar, coisa que BOB, seu amigo, voltará a fazer.

O nome do homem de um braço só é, na verdade, Philip Michael Gerard e ele é vendedor de sapatos; diferente do esperado, ele não reconhece o retrato falado de BOB, o que apareceu nas visões de Sarah Palmer e no sonho de Cooper; Gerard até possui um melhor amigo com o nome de Bob Lydecker, mas Lydecker está em coma no hospital em que o homem de um braço só foi visto.


É fato conhecido que a ideia inicial de David Lynch e Mark Frost era usar o assassinato de Laura Palmer como pretexto para desenvolver outras histórias passadas em Twin Peaks, e o quarto episódio da série, escrito por Robert Engels e dirigido por Tim Hunter, foi o que mais se aproximou dessa abordagem.

Uma das tramas paralelas que ganha mais destaque nesse episódio envolve uma conspiração entre os amantes Benjamin Horne e Catherine Martell para tirar Josie Packard, cunhada de Catherine, do comando da Serraria Packard. Desde o piloto, ficamos sabendo que Ben deseja instalar um resort em Twin Peaks, mas a serraria é um empecilho do qual o figurão pretende se livrar com a ajuda de um incêndio a ser providenciado pelo bandido Leo Johson.

Outro drama bastante desenvolvido é o de Norma Jennings e a soltura, em caráter condicional, do seu marido, o predador Hank, preso por homicídio. Por acaso, Hank é outro que parece querer fazer a vida de Josie Packard um inferno, mas ainda é cedo para saber como e o porquê.


Na esteira do mistério principal não faltam coincidências: na noite de sua morte, Laura Palmer teve o ombro perfurado por bicadas de um mainá; durante o interrogatório de Philip Gerard, Cooper e Trumam descobrem que o vendedor de sapatos é amigo um veterinário; entre os "pacientes" da clínica veterinária investigada encontra-se Waldo, um mainá de propriedade de ninguém menos do que o traficante Jacques Renault; para piorar a situação do barman canadense, Bobby Briggs implanta em sua casa a camisa ensanguentada de Leo Johson, no instante imediato à chegada da polícia ao local.

Paralela à investigação oficial vemos surgir uma nova "equipe" também interessada em solucionar o mistério do assassinato de Laura Palmer, composta por Audrey Horne e Donna Hayward, acompanhadas do eterno constipado James Hurley. Donna e James querem solucionar o crime porque acreditam que somente assim a garota descansará paz; já Audrey pretende encontrar o assassino para impressionar Dale Cooper, com quem deseja viver uma "vida de mistérios e intrigas internacionais".


Conta-se que Robert Engels foi convidado por Mark Frost a se juntar ao time de roteiristas por possuir um senso de humor compatível com o estilo da série, mas o fato é que tanto ele quanto Tim Hunter, que foi colega de David Lynch no American Film Institute, parecem não ter captado o climão estranho tão característico de Twin Peaks. Nas mãos da dupla, até mesmo Dale Cooper pareceu descaracterizado, soando mais sério e convencional do que é.

Analisada de forma completa, a primeira temporada de Twin Peaks é bem redondinha e deixa pouco a desejar, mas não chega a ser segredo algum que esse episódio, quando separado do conjunto, seja um dos mais fracos de toda a série por ser genérico demais e pareça feito para encher um pouco de linguiça, mesmo fazendo a trama andar.

- Ouvindo: Mad Season - Long Gone Day

Nenhum comentário: